Todos nós usamos máscaras nas redes sociais.
- Rui Miguel
- 10 de jul. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 18 de jul. de 2024
Por: Rui Miguel Trindade cos Santos
Em primeiro lugar, podemos recorrer à teoria do "eu plural" de George Herbert Mead, para entender como as redes sociais permitem que cada indivíduo adote múltiplas personas. Mead argumenta que nossas identidades são formadas e modificadas através de nossas interações com os outros. Nas redes sociais, temos a capacidade de criar representações idealizadas de nós mesmos, moldando nossa identidade de acordo com os feedbacks que recebemos.
Seguindo essa linha de pensamento, Erving Goffman apresenta a ideia do "palco da vida" em seu trabalho "A Representação do Eu na Vida Cotidiana". Para Goffman, todos desempenhamos certos papéis em nossas interações diárias, ajustando nosso comportamento com base no contexto e na audiência. As redes sociais amplificam esse fenômeno ao fornecer um "palco" digital, onde nossa audiência está sempre presente e nossas performances são constantemente avaliadas.
Outro pensador relevante é Jean Baudrillard, cuja teoria da simulação e hiper-realidade é extremamente aplicável ao contexto das redes sociais. Para Baudrillard, estamos imersos em uma sociedade onde as representações da realidade começam a substituir a própria realidade. No ambiente das redes sociais, isso se manifesta através do culto à imagem e da criação de personas que muitas vezes pouco têm a ver com a nossa realidade cotidiana.
A filósofa contemporânea Sherry Turkle examina como a intimidade e a autenticidade são comprometidas na era digital. Em seu livro "Alone Together", Turkle discute como a comunicação digital fragmenta nossa atenção e afeta nossa capacidade de estabelecer conexões genuínas. Nas redes sociais, usamos máscaras para nos proteger da vulnerabilidade, mas isso também nos afasta da verdadeira intimidade, prejudicando a autenticidade de nossas interações.
Além disso, Zygmunt Bauman, com sua teoria da "Modernidade Líquida", argumenta que vivemos em tempos de constante mudança e incerteza. As redes sociais exemplificam essa modernidade líquida através da efemeridade das publicações e do constante desejo por novidades. Nesse contexto, a construção de uma identidade estável e coerente torna-se uma tarefa árdua, levando-nos a adaptar nossa identidade de forma contínua e superficial.
Outro aspecto importante a considerar é o conceito de "vigilância líquida" proposto por David Lyon. Nas redes sociais, estamos constantemente sendo monitorados e analisados, não só por entidades corporativas, mas também pelos nossos próprios pares. Essa vigilância contínua pode levar a uma autocensura e a uma conformidade social, onde usamos máscaras para nos alinhar com expectativas externas.
O existencialismo de Jean-Paul Sartre também oferece insights valiosos. A famosa frase de Sartre, “O inferno são os outros”, pode ser recontextualizada para o ambiente das redes sociais, onde a constante vigilância e julgamento podem tornar-se opressivos. A exigência de se conformar a determinadas normas e expectativas pode levar à alienação de nossa verdadeira essência.
Além disso, a filosofia de Michel Foucault sobre o poder e a subjetividade pode iluminar como as redes sociais funcionam como mecanismos de controle. Foucault argumenta que o poder se manifesta através do controle da subjetividade. Nas redes sociais, onde normas e padrões são frequentemente reforçados por grupos influentes, a nossa subjetividade é continuamente moldada e vigiada, limitando nossa capacidade de agir autenticamente.
A crítica da sociedade contemporânea feita por Theodor Adorno e Max Horkheimer também é relevante. Eles discutem como a indústria cultural molda a consciência humana, promovendo padrões de comportamento e pensamento que servem aos interesses dominantes. Nas redes sociais, esses mecanismos são replicados e intensificados, promovendo estilos de vida e ideais que podem afastar os indivíduos de suas verdadeiras necessidades e sentimentos.
Por outro lado, a filosofia de Emmanuel Levinas destaca a importância do "Outro" na formação de nossa identidade. Na era digital, onde a interação face a face é substituída pelas trocas digitais, a capacidade de reconhecer a alteridade do Outro é comprometida. Ao usar máscaras, tornamo-nos menos capazes de realmente "ver" e "ouvir" o outro, perdendo assim a riqueza das relações humanas genuínas.
O filósofo contemporâneo Byung-Chul Han também aborda o impacto da sociedade digital sobre a identidade. Em sua análise da "sociedade da transparência", Han argumenta que a busca por visibilidade constante nas redes sociais leva a um esgotamento da subjetividade. A exposição incessante e a pressão por autoaperfeiçoamento criam identidades fragmentadas e desgastadas.
Se não formos cautelosos, o uso contínuo dessas máscaras pode levar a uma perda profunda de identidade, onde nossa verdadeira essência é substituída por construções artificiais e efêmeras. É crucial, então, buscar um equilíbrio entre a participação nas redes sociais e a preservação de nossa autenticidade, para que possamos navegar pelo mundo digital sem perder de vista quem somos de fato.
Rui Miguel Trindade dos Santos

Comentários