top of page
  • Facebook
  • LinkedIn
  • Twitter
  • Pinterest
Buscar

"Shoppings Centers ou campos de concentração?"

Atualizado: 18 de jul. de 2024

Por: Rui Miguel Trindade dos Santos


Eu realmente acredito que exista uma analogia controversa sobre a comparação entre shoppings centers e campos de concentração, uma metáfora que visa destacar aspectos opressivos, de controle e alienação desses espaços de consumo.


Primeiramente, é importante entender que tal comparação não é literal, mas simbólica. Os shoppings centers são ambientes projetados para maximizar o consumo e criar uma experiência que, ostensivamente, é focada no prazer e conveniência. Contudo, filósofos críticos apontam que esses espaços exercem um tipo de controle sutil sobre os indivíduos, restringindo comportamentos e moldando desejos de acordo com os interesses do capitalismo.


Em segundo lugar, enquanto os campos de concentração representam o ápice da desumanização e repressão física e psicológica, os shoppings centers exercem formas de alienação mais sutis. Nos shoppings, a liberdade é uma ilusão: o espaço é cuidadosamente controlado, a circulação é direcionada, e a vida se torna um espetáculo onde o consumo incessante se apresenta como solução para todas as necessidades e desejos humanos.


Além disso, os shoppings centers criam uma zona que separa o ‘dentro’ do ‘fora’. Dentro do shopping, há uma suspensão artificial da realidade; a arquitetura grandiosa, a iluminação, a música ambiente e a ausência de janelas para o mundo exterior trabalham para criar uma realidade paralela. Este isolamento induz um estado de imersão total no consumismo, separando o indivíduo das realidades externas e das questões sociais mais amplas.


Outro aspecto crítico é a redução da diversidade cultural nesses espaços. Assim como os campos de concentração suprimiram identidades e culturas, os shoppings promovem uma cultura homogênea e consumista que suprime a expressão cultural autêntica. Marcas globais impõem uma estética e um modo de vida padronizado que apaga as particularidades locais.


Além disso, esse ambiente artificial pode desumanizar as relações sociais. A interação humana genuína é substituída por transações econômicas, e laços comunitários são enfraquecidos enquanto o indivíduo se torna uma unidade de consumo. A área de convivência nos shoppings é, muitas vezes, outro ponto de venda disfarçado, onde experiências e entretenimento são monetizados.


Cada visita ao shopping center envolve uma interação com uma rede de vigilância invisível. Câmeras monitoram os movimentos, algoritmos rastreiam hábitos de consumo, e os dados coletados são utilizados para prever e influenciar comportamentos futuros. Este panóptico digital espelha, de forma menos brutal mas igualmente invasiva, a vigilância e o controle associados aos campos de concentração.


Outro ponto de crítica reside nas condições de trabalho e produção que sustentam os shoppings centers. Muitas vezes, a produção dos bens consumidos nesses locais envolve exploração e condições de trabalho análogas às de servidão, em fábricas no exterior. O shopping center, portanto, se torna a face glamourosa de um sistema global de exploração.


Ademais, é fundamental refletir sobre a sustentabilidade desses espaços. A construção e a operação de shoppings centers têm um impacto ambiental significativo. Eles consomem grandes quantidades de energia, contribuem para urbanização desenfreada, e incentivam um estilo de vida voltado para o consumo incessante, com implicações negativas para o meio ambiente.


Finalmente, é importante questionar o próprio propósito desses espaços em nossa sociedade. Enquanto os campos de concentração eram indiscutivelmente locais de sofrimento extremo e opressão, os shoppings centers, sob a superfície de prazer e conveniência, também promovem uma forma de opressão – uma que é econômica, cultural e psicológica. Ambos os espaços, de maneiras diferentes, nos convidam a refletir sobre as formas de opressão nas sociedades modernas e os custos de um sistema movido pelo consumo exacerbado.


Em suma, a comparação entre shoppings centers e campos de concentração, embora provocativa e controversa, serve como uma poderosa metáfora para criticar as formas menos óbvias de controle e alienação na sociedade contemporânea. Ela nos desafia a reconsiderar o impacto que esses espaços têm sobre nossa liberdade, identidade e cultura, incentivando-nos a busca por alternativas mais humanas e sustentáveis.


Rui Miguel Trindade dos Santos


ree

 
 
 

Comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação
bottom of page