Será que a religião é responsável pelas ansiedades?
- Rui Miguel
- 16 de jul. de 2024
- 2 min de leitura
Por: Rui Miguel Trindade dos Santos
No labirinto da condição humana, a religião emerge não só como um guia espiritual, mas também como um carcereiro invisível. O papel da religião moderna, longe de ser meramente inofensivo, muitas vezes catalisa ondas de ansiedade, depressão e culpa. Filósofos antigos e contemporâneos trouxeram à tona essa realidade sombria, escrutinando o impacto psicológico da fé cega e da dogmática imposição de preceitos morais.
Arthur Schopenhauer, o melancólico pensador do século XIX, nos alerta de maneira pungente: “As religiões são como vaga-lumes: precisam de escuridão para brilhar.” Esta metáfora não poderia ser mais pertinente. Religiões prosperam na ignorância e alimentam seus fiéis com medo do desconhecido. Em vez de fornecer clareza, obscurecem a mente, semeando dúvidas e incertezas. O resultado é uma espiral de ansiedade que estrangula a mente, impedindo-a de questionar e buscar a verdade.
Friedrich Nietzsche, o iconoclasta, vem sacramentar: "A fé significa não querer saber o que é verdade." Essa fórmula implacável expõe a tenebrosa face da religião: a supressão da razão. A imposição de uma fé indiscutível abafa a curiosidade inata e rejeita a iluminação do entendimento racional, fomentando uma luta interna interminável. Essa batalha entre crenças incutidas e verdades empíricas desencadeia crises existenciais, desferindo golpes na psique humana que culminam em depressão.
Sigmund Freud, cujas investigações desnudaram as complexidades do inconsciente, foi impiedoso em sua análise: a religião é uma "neurose obsessiva universal." Para ele, as doutrinas religiosas perpetuam uma regressão à infância, onde o ser humano abdica de sua autonomia em troca de uma ilusória segurança paternalista. Este constante estado de vigilância e julgamento divino assombra a consciência com uma carga de culpa incansável. As regras moralistas sufocam a evolução pessoal, perpetuando uma sensação perene de inadequação e arrependimento.
Daniel Dennett, filósofo contemporâneo da era do pensamento crítico, assevera com precisão cirúrgica: “A religião é um fenômeno natural que existe porque beneficia suas ideias mais do que seus portadores.” Ele denuncia a estrutura religiosa como um parasita que se alimenta do medo ancestral do desconhecido e das ansiedades inerentes ao ser humano. À medida que sustenta suas narrativas históricas, a religião impõe um jugo psicológico severo sobre seus seguidores, exacerbando angústias existenciais e alimentando explosões de ansiedade.
Immanuel Kant, embora tenha reconhecido algum valor nos princípios morais das religiões, enfatiza: "A religião é a aceitação cega da lei pela voz da autoridade." Kant aponta o dedo para a obediência inquestionável que a religião exige, onde a liberdade individual é sacrificada no altar dos dogmas. Esta subserviência gera um ciclo vicioso de culpa e penitência, estraçalhando a autoestima e levando a um perpetuado estado de opressão mental.
Estas reflexões filosóficas, tanto antigas quanto contemporâneas, convergem para um diagnóstico implacável: a religião, longe de ser um oásis de paz, frequentemente se torna uma fonte de profundo sofrimento psicológico. Ao impor medo, reprimir a autonomia individual e fomentar uma constante sensação de culpa, a religião capacita um estado de escravidão emocional. Para que a humanidade possa genuinamente florescer, é imperativo que a razão se sobreponha ao dogma, permitindo que o ser humano se liberte das correntes invisíveis que aprisionam sua mente e espírito.
Rui Miguel Trindade dos Santos

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