Qual o preço da sua amizade? Voce tem um.
- Rui Miguel
- 18 de jul. de 2024
- 8 min de leitura
Por: Rui Miguel Trindade dos? antos
Todo mundo tem seu preço.
A ganância é o princípio de todo o mal, isso é puramente verdade. Eu vou além: - A ganância pelo dinheiro é princípio tanto do mal quanto do bem. - É impressionante como ter posses ou ter dinheiro abre portas em todos os lugares. E não estou falando de lugares físicos, estou falando de lugares sentimentais como família, amizades, vizinhança, colegas de trabalho. Infelizmente, as pessoas julgam as outras pelos seus bens materiais.
E não me venha dizer que você está pensando o seguinte agora:
- Eu não sou assim!
Me desculpa dizer, você é. Você é exatamente igual a todo mundo que tem um preço a ser comprado. Mas não se preocupe, não é culpa sua e nem de sua criação. É o mundo ao seu redor que te ensinou isso. É a tv, a internet, as revistas e os jornais que culturalmente inserem em seu subconsciente, desde os primórdios de sua infância essa gana de querer sempre mais e dar valor a pessoas que são abastadas.
Quando seu filho sai para brincar com os colegas, sejam eles ricos ou paupérrimos, eles não distinguem. Para eles não há a menor diferença. As crianças até este momento são amorais. Os valores das crianças não são baseados nos bens materiais, pois isso não os interessa naquele momento. Além de não compreenderem o que é isso, não fazem questão de entender, pois não mudaria nada na pessoa. O amigo continuará sendo o mesmo, rindo e brincando com ele. E é isso é o que importa.
Quando essa criança sai de seu mundo familiarmente protegido e ingressa nesse nosso mundo senil, ela entende como as coisas funcionam. Se você não tem dinheiro, não compra nada. Se você não tem nada, você não é ninguém. Se você não é ninguém, o mundo te ignora e a vida não tem graça nenhuma.
O nosso mundo funciona assim. Se você não tiver nada você é completamente idiota. É um burro que não estudou. É pobre de dinheiro e espírito porque se fosse inteligente teria bens materiais valiosos. Então as pessoas se recusam a serem suas amigas porque acham que você não tem valores nem virtudes que poderiam agradá-las.
O jovem aprende essas questões conscientemente durante a sua imersão no mercado de trabalho. O que é demais nunca é o bastante.
Se uma pessoa tem dinheiro é porque ela é inteligente e subiu na vida. Dessa forma ele pensa:
- Eu tenho muito o que aprender com ele.
Não adianta, todos nós somos preconceituosos a esse ponto. Por favor, não me venha dizer que você trata todo mundo igual. É mentira. Bem, retificando, você pode até tratar todo mundo bem, mas no fundo você sempre terá no seu inconsciente a tendência de observar e ouvir quem tem mais posse material.
Vamos supor que você solicite duas pessoas para realizar um orçamento na geladeira da sua casa, que não está mais funcionando. Você liga para dois profissionais, às cegas, e pede para eles virem até sua residência para fazer o orçamento. Os dois comparecem na hora marcada. O primeiro profissional chegou em uma Brasília e pareceu a você ser um bom profissional. Algum tempo depois chega o segundo. Voce abre a porta e observa essa pessoa saindo de uma HILUX do ano. Nada anormal. Então o segundo profissional faz o orçamento e, para ficar justo nessa comparação, o orçamento deste tem o mesmo valor do primeiro. A pergunta:
– Qual você escolheria?
Independentemente de sua resposta pensada e calculada para mim, neste momento o seu subconsciente já respondeu. Você já relacionou a caminhonete do ano com a competência do profissional. Se ele tem um carro para trabalhar de cem mil reais então ele deve ser muito melhor em suas atividades.
Viram como é simples?
O nosso pré-conceito já está formado. Nós humanos somos miseráveis na questão de julgamento. Se conhecermos um senhor maltrapilho que tem um sotaque do interior mineiro e problemas para usar concordâncias verbais, talvez nem nos interesse conversar pois acharemos que não teremos assunto. Mas se minutos depois soubermos que esse senhor é um fazendeiro milionário, bem-sucedido do norte de Minas, neste exato momento o nosso julgamento inicial se extingue e dá lugar a respeito e admiração. Porque para ter este posto a pessoa tem que ser inteligente. Se é milionário, já possui algo que nos agrada.
Somos egoístas e aproveitadores. Isso, infelizmente, faz parte de nós.
Nós nascemos sem esses preceitos. Somos influenciados pelos conceitos errados. Desenvolvemos as nossas opiniões pré-concebidas que, lógico, não são concedidas pelos outros ou pelo ambiente que nos cercam. Então temos que largar tudo isso ao enxergarmos que tudo o que nos foi ensinado está errado.
Então começa a reconstrução (ou desconstrução) de nossas bases de ideais e valores. Infelizmente, hoje as pessoas te valorizam pelo que você ganha por mês. Se você é bem-sucedido é porque é inteligente, esperto e sabe o que faz. Consequentemente você é formador de opinião e deve ser ouvido. Todos os seus argumentos devem ser levados em consideração, diferentemente do senhor que não possui uma conta bancária tão exuberante assim.
Até quando vamos valorizar a pessoa pelo que ela tem e não pelo que ela é? O que é engraçado e chega a ser tristemente previsível é que, ao alcançar sucesso financeiro e consequentemente estiver no auge do seu desenvolvimento profissional, com certeza você teve vários amigos que não são os mesmos que você tem hoje. Porque o que importa para as pessoas interesseiras, sem valores reais e sem amor-próprio é o que você é hoje e não seu histórico, sua experiência de vida e sua maturidade. Eu posso dizer com certeza isso. Por mais que as pessoas dissessem que amavam a mim e a minha amizade, muitos que estavam comigo em momentos de sucesso financeiro não são os mesmos que hoje tenho ao meu lado.
Um ensinamento do Tao te Ching: “A afeição extrema significa um grande desgaste e as posses abundantes grandes perdas. Se voce perceber quando tiver o suficiente, não estrará em desgraça. Se souber quando parar, não estará em perigo. Dessa forma, é possível viver muito tempo”.
Afirmo sem nenhum medo de ser taxativo que 95% das minhas amizades somem quando eu não tenho nada a oferecer. Por isso eu sempre digo:
“Amizades verdadeiras são muito poucas, podemos contar nos dedos”. Albert Einstein disse: “Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, em relação ao universo, ainda não tenho certeza”.
A maioria de nossas amizades ou são interesseiras ou se aproveitam de situações. Você nada mais é do que uma escada para ele subir. Enquanto sobe, ele te empurra para baixo sem o menor remorso. Tome cuidado com quantos amigos você tem no Facebook ou em qualquer rede social.
Isso me lembra a história de um vendedor de balas de rua. Ele começou vendendo balas em cima de um caixote de madeira onde colocava através de um elástico em volta do seu pescoço. Ele ficava na frente da agência do Banco do Brasil em uma avenida onde se localizavam vários prédios comerciais. Neste local oferecia sua mercadoria para quem saísse ou entrasse no banco. De caixote pendurado no pescoço passou a vender em uma pequena banca já instalado no passeio dessa agência.
Tentou pedir ajuda financeira para os seus amigos e familiares o impulsionar a melhorar as suas vendas. Ninguém acreditou e muito menos quiseram ajudá-lo. Alegaram que esse dinheiro seria mal aplicado, mas que se fosse para comprar comida, tudo bem. Agora, pedir dinheiro para investir em uma banca de doces no meio da rua? E com o tempo essas pessoas se afastaram; alegando até um pouco de desespero da parte do vendedor.
O tempo foi passando. O vendedor de balas continuou vendendo. Era carismático. Sabia ser simpático, atender os clientes, valorizava cada venda de bala. Sabia encantar as pessoas. Passados um ano e meio já possuía 2 funcionários para atender e entregar as mercadorias para as pessoas que não podiam sair dos seus prédios e escritórios. Estava nesse momento gerando uma renda líquida de R$ 3.000,00 por mês. Sempre no mesmo lugar. Na frente de uma agência bancária do Banco do Brasil. É lógico que devido a essa história de empreendedorismo acabou chamando a atenção de jornais e TV da região. Com uma pequena fama, aqueles amigos e colegas que antes não apareciam começaram a voltar.
Certo dia um deles apareceu. O vendedor de balas o recebeu com o maior carinho, simpatia e hospitalidade. Não tinha nenhum rancor. Afinal eram amigos a muito tempo. Depois de horas conversando seu amigo pergunta:
- Desculpa eu estar aqui te pedindo isso, mas eu gostaria de saber se voce pode me emprestar um dinheiro. Sabe como as coisas estão difíceis hoje. Mas eu prometo, vou te pagar assim que eu receber.
O vendedor de balas respondeu carinhosamente:
- Meu grande amigo, eu teria o maior prazer em te ajudar. Mas eu não posso. Veja, não é que eu não quero. Mas eu não posso.
- Por quê??? – Perguntou o amigo
- É porque eu fiz um trato com o Banco do Brasil. E o trato foi o seguinte: - Eu, em hipótese alguma posso emprestar dinheiro para alguém e o Banco do Brasil em hipótese nenhuma pode vender balas.
A maioria só irá te valorizar se tiverem uma oportunidade de ter algo em troca ou em outras palavras, são pessoas oportunistas. Faça o seguinte teste:
- Se sentir que, se você não chamar para conversar nas redes sociais ou nos seus aplicativos de mensagens, elas não lembrariam de você, realize o teste que eu chamo de “amizade ostentosa”: Comece a postar fotos de viagens internacionais que você nunca fez. Poste fotos de carros luxuosos ou apenas um. Publique uma foto de alguma festa pomposa ou participação de um evento muito glamoroso em sentido midiático. Faça isso tudo no decorrer de uma semana. Não estou falando para você mentir dizendo que adquiriu aquilo, que viajou ou mesmo que seja influente no meio artístico. Poste sem nenhum comentário. E garanta que suas fotos sejam apenas sugestivas. Durante esse processo verifique quantas pessoas que nunca te perguntaram como você está, de uma hora para outra vão mandar um:
“Oi, quanto tempo…”.
Isso prova o quanto somos mesquinhos e, às vezes, idiotas em nossas atitudes. As lições de vida de uma pessoa humilde são muito mais fortes do que a vida de uma pessoa abastada. Oscar Wilde dizia: “A cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo. Para ser popular é indispensável ser medíocre.”
No livro de Alexandre Monteiro “Decifrador de pessoas” ele diz sobre amizades manipuladoras: “O grande objetivo das pessoas tóxicas, difíceis ou manipuladores é o controle sobre o outro para satisfazer suas necessidades, não considerando as necessidades dos outros. Para as pessoas difíceis é uma questão de gestão e dor emocional. Fazem isso para minimizar essa mesma dor, que pode ser falta de segurança, atenção, reconhecimento ou poder, sem intenções de prejudicar. Por outro lado, as pessoas manipuladoras querem poder e não se importam com os danos que causa ou com as pessoas que prejudicam no caminho para o poder.”
Dinheiro não é conhecimento e poder não é sabedoria. Tudo pode ser oportuno, mas tudo é vaidade. Não se deixe levar pelo que as pessoas têm e sim pelo que elas são. Se sua mente já está treinada para fazer o contrário, comece a trabalhar e a moldá-la de maneira correta. Pois você vale muito mais do que bens materiais e sua maturidade será muito mais atrativa do que qualquer conta bancária. Nenhum número pode comprar sabedoria, conhecimento nem o amor “verdadeiro” de ninguém. Podem até enganar, mas com o tempo tudo isso vem à tona. O dinheiro impressiona, engana mas não sustenta o caráter de ninguém.
As minhas perguntas finais são:
Quem são seus verdadeiros amigos? O quão mensuráveis eles são? Qual o preço da sua amizade? Você tem um?
Rui Miguel Trindade dos Santos

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