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Não gosto da solidão. Mas preciso da solitude.

Devem-se escolher os amigos pela beleza, os conhecidos pelo caráter e os inimigos pela inteligência.

Oscar Wilde


Por Rui Miguel Trindade dos Santos


Não sou contra a redes sociais, uso-as por necessidade, mas eu não sou escravo dela. Eu não deixo que ela determine como o meu dia a dia ocorre. Eu sou muito mais afetivo do que meramente técnico. Não gosto de enviar mensagens com carinhas e bonequinhos que traduzem beijos e abraços. Eu gosto de abraçar e beijar as pessoas queridas pessoalmente.


Amigos e amados, o mal do século é a solidão. É incrível como a frase acima seja ainda verdadeira. Incrível porque vivemos em uma era em que todos estão conectados de uma forma ou de outra. Nunca foi tão fácil estar próximo de pessoas com quem antes era impossível conversar. Diminuímos a distância, aumentamos o nosso tempo que deveria ser livre. Somos mais capazes de interagir com pessoas que não conhecemos, mas nunca nos sentimos tão sozinhos. Parece que estamos perdidos e desesperadamente atônitos em meio a uma multidão. 


Existe uma grande diferença entre solidão e solitude. Eu não gosto da solidão. Mas eu amo minha solitude.

Ter sua solitude é voce amar estar consigo. É amar ter um tempo apenas para voce. Um tempo somente seu. Voce precisa tirar um tempo para ficar sozinho. Ver um filme, ler um livro, fazer exercícios, pensar, meditar, mas sem nenhuma outra pessoa. Voce só pode se amar se conhecendo. Mas para isso precisa de um tempo de solitude. Para meditar em seu dia, em sua semana ou na vida. Não importa. A sua solidão é a sua verdade.


Toda a experiência de vida passa por se estar com pessoas. A solidão parece-se quase com a morte. No momento em que se afasta da multidão, afasta-se igualmente da sua personalidade. Isso é muito perigoso. Quando voce não sabe separar a sua personalidade com a do mundo, com a sociedade, se torna escravo dela. Quando não consegue ter seu momento de solitude sem as influências do computador, internet, celular, redes sociais é porque voce perdeu sua identidade.


Quem sou eu? E surge o medo de que você não seja nada! Talvez você não seja senão uma associação de todas as opiniões da multidão.


Com medo voce se isola. O isolamento é confundido com a solitude. Logo que confunda a sua solitude com isolamento, todo o contexto muda. A solitude tem beleza e grandiosidade, é positiva; o isolamento é pobre, negativo, sombrio, triste.


O isolamento é um fosso. Algo está em falta, algo é necessário para o preencher e nada o pode preencher, pois é um mal-entendido. À medida que você fica à mercê das redes sociais, amigos, seguidores, likes, visualizações o fosso aumenta. As pessoas têm tanto medo de estar sós que fazem todo o tipo de coisas estúpidas. É por isso que a solitude é importante.


Depois de estar sintonizado com a sua solidão, pode relacionar-se com os outros; então as suas relações podem trazer-lhe grandes alegrias, porque elas não provêm do medo de ficar sozinho. Do medo de ao desligar o computador não tenha mais ninguém do seu lado. O medo de quando acaba a bateria do seu celular voce se sinta só. O medo de que os likes diminuam e as pessoas não te elogiem mais e perca a sua identidade, pois até hoje voce precisa que alguém fale que voce é boa ou que voce é feliz porque voce mesmo não acredita nisso.


Encontrada a sua solitude, pode criar, pode envolver-se em tantas coisas quantas queira, porque esse envolvimento não será uma fuga de si mesmo. Agora será a sua expressão; agora será a manifestação de tudo o que é o seu potencial.


O homem nasceu como parte do mundo, como membro da sociedade, da família, como parte de outros. Ele é educado, não como um ser solitário, mas como um ser social. Toda a instrução, educação e cultura, internet, redes sociais, redes de relacionamento afetivo, consiste em fazer a criança integrar-se na sociedade. Integrá-la no meio onde os outros também estão inseridos. Isto é o que os psicólogos definem como “ajustamento”.


Mas lembre-se, se voce não consegue ou não gosta de ficar sozinho, quer dizer, se não ama a sua solitude então não pode se amar. Se não consegue aproveitar o tempo com voce e depende em estar sempre on-line para conversar com todo mundo pode ter certeza de que sua companhia  não é agradável. Pode ser boa, atras de uma tela, mas fisicamente não. E de que forma seria, se voce mesmo não consegue ficar junto com voce. E sem se amar nunca amará verdadeiramente ninguém.


Segundo Erich Rom, no livro a  arte de amar, afirma que uma pessoa só pode amar a outra se conhecer a si mesma e respeitar  a própria individualidade . Só então estará preparada para entender e respeitar seu parceiro.

 

Quanto mais as pessoas me dizem que possuem centenas e centenas de amigos nas redes sociais, mais tenho a impressão de que, a cada vez que adicionam uma pessoa em seu círculo de amizade virtual (com a qual, talvez nunca venham a conversar) mais sozinhas elas se encontram. Precisam que cada vez mais as pessoas  olhem sua vida e digam o quanto ela é legal, porque ela mesma não está convencida disso. Jesus Cristo é o homem mais conhecido na história do humanidade e ele teve apenas 12 seguidores. Então eu não me preocuparia muito em medir a sua popularidade pelo número de pessoas que lhe seguem.


Existe uma frase que é repetida várias e várias vezes por todos que observo, seja na fila do banco, nas conversas em restaurantes, nos encontros descompromissados de dois amigos, de vizinhos, ou seja, de todos os diálogos que encontro no meu dia a dia. É um mantra:


– Estou sem tempo!!!


Todo mundo hoje usa essa frase para tudo. Com ela justificam sua ausência na vida de um amigo, de um colega. Justificam o tempo que não passaram com a família. Muitas vezes quando estou num local público e presencio o encontro acalorado de dois amigos que não se viam a muito tempo, perdidos naquele momento nostálgico, em que um relembra passagens já vividas, a conversa termina da seguinte maneira:

- Vamos combinar alguma coisa um dia.


-  Vamos combinar de você ir lá em casa, leva a sua esposa.

- Me dá seu whats e a gente combina alguma coisa.


Pode ter a certeza não há nenhuma possibilidade de isso acontecer. E qual é a desculpa mais utilizada? A resposta é sempre a mesma:

– Cara, estou sem tempo. “Tá” uma correria. Mas quando eu tiver um tempinho eu vou lá sim.


Não vai não.


E tanto quem diz isso quanto quem ouve sabe que isso não vai acontecer. Um finge que promete que vai e o outro finge que acredita.

Tenho aversão a esse tipo de conversa. Gosto muito de visitar meus amigos, seja de longa data ou aqueles que fiz recentemente, mas nunca deixo a conversa terminar em:


- Vamos combinar alguma coisa algum dia”. 


Que tempo é esse? Futuro do pretérito da enrolação?  Se me dizem algo assim eu já respondo:

– Vamos marcar agora, sem rodeios, data e horário.

E sabe por que eu faço isso? - Porque eu sou chato, sou metódico, sou calculista?


Não.


Faço isso porque valorizo minhas amizades e as pessoas que amo.  Eu sei que com tanta falta de tempo as pessoas acabam esquecendo ou deixando de lado devido aos problemas do dia a dia. Não preciso ser um amigo cobrador de atenção que faz observações injustas da falta de tempo do meu próximo. Se eu sei que ele não tem tempo ou provavelmente irá esquecer, então por que eu não tomo a iniciativa de visitá-lo?

Seria mais fácil ficar com raiva, praguejar contra a falta de consideração do meu amigo e achar que eu tenho o direito de ter uma atenção em meio ao caos em que a pessoa vive? Não seria muito mais fácil eu marcar uma hora e data certas e ir visitá-lo? Pronto. Alguém tem que dar o primeiro passo. Então que seja “eu”.


Aristóteles disse: Qualquer pessoa pode ficar chateada e isso é muito fácil. Mas ficar aborrecido com a pessoa certa, no grau adequado, no momento oportuno, com o proposito justo e da forma correta, isso certamente, não é tão fácil. “E, muitas vezes, abster-se demonstre mais bravura, reservando-se para um inimigo mais digno”.

 

Não perca tempo murmurando, reclamando. A vida não dá tempo para nós ficarmos com infantilidades. Criar oportunidades e situações é nossa responsabilidade. Quando essas oportunidades não ocorrem na sua vida a responsabilidade do fracasso é apenas sua. Assuma isso.

Mas voltando ao assunto do título:


O problema “tempo” afeta a todos. E isso é muito intrigante. A alguns anos atrás precisávamos ir ao banco para resolver qualquer questão. Perdíamos horas dentro dele.  Se quiséssemos comprar alguma coisa diferente tínhamos que ir ao centro da cidade em busca daquilo. Se quiséssemos uma boa leitura tínhamos que ir a uma boa livraria. Fazer compras, pagar contas, comprar viagens, contratar serviços, estudar, formar em uma faculdade, resolver um problema na prefeitura, fazer uma consulta médica e pegar uma receita. Tudo isso você pode fazer hoje pela internet através do note ou celular.  Se pensar um pouco verá que até o controle remoto de sua televisão é um modo de polpar seu tempo, porque antes tínhamos que levantar e trocar o canal.  (Eu sei geração z. Hoje o controle remoto já não existe mais. É tudo por comando de voz). Isso apenas reforça a minha afirmação. E qual seria o resultado da tecnologia da informação nos beneficiar?


Se estamos economizando tanto tempo assim, então automaticamente deveríamos ter muito mais tempo livre. Mas não é isso o que acontece.


Nunca o mundo foi tão prático, tão imediatista para nós conservarmos o nosso tempo. E qual é o resultado? - Cada vez temos menos tempo.  Chega ao absurdo de você hoje ter menos tempo do que tinha antes. Mas como? Onde está o erro?


- Nós somos o culpado.


Lembram-se da expressão “tempo é dinheiro”? Por incrível que pareça, temos ganância tanto pelo dinheiro quanto pelo tempo. O dinheiro nunca é o bastante, sempre queremos mais e nunca estamos satisfeitos.


Fazemos a mesma coisa com o tempo. Estamos utilizando o tempo que nos resta para trabalhar mais, para compensar coisas que nunca tivemos a oportunidade de fazer, para atender a desejos que nunca foram prioridades. E com isso o tempo passa. Você nunca reserva um pouco dele para passar com sua família e seus amigos. E temos a cara de pau de nos perguntar por que as pessoas se afastam de nós. Somos nós que, devido à viseira de burro que usamos no nosso dia a dia, não enxergamos que a ganância com o tempo trará um prejuízo incalculável na vida.


Como sempre gosto de falar, o fator tempo não existe. É uma ideia criada pelo homem mas que não existe no cosmos. É por isso que eu digo que apenas existe o hoje. O amanhã e o ontem, o futuro e o passado não existem em nosso universo. Então utilize o hoje para ser uma pessoa diferente e coisas diferentes


Apenas faremos a diferença para nós e para os outros nessa vida se realmente  construirmos a nossa individualidade.


Rui Miguel Trindade dos Santos



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