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Amar ao próximo está démodé?

Por: Rui Miguel Trindade dos Santos



E o segundo maior mandamento é: “Ame ao próximo como a ti mesmo”.

Essa é a regra principal de quase todas as religiões. Amar ao próximo. Demostrar aemor às pessoas que você não conhece e amar as pessoas sem ao menos esperar um retorno, uma gratidão, sem ao menos esperar um agradecimento. Amar por amar. Amar simplesmente para ver o outro feliz.


Muito lindo tudo isso, mas na prática, quase ninguém a realiza.


Hoje em dia eu entendo bem o que quis dizer Jesus Cristo com a frase: “Ame ao próximo como ao seu inimigo”. Ele falou isso porque muitas vezes essas duas pessoas são a mesma.


O amor apenas consegu dar-se, e o entendimento de receber algo em troca nem vem à tona. Mas esse é o milagre da existência: Se oferecer amor, o amor lhe devolve o seu próprio amor mil vezes. Não é preciso mendigar. O amor faz de voce o melhor. Ele se dá e, estranhamente, descobre que o mesmo amor se desdobrou em todas as direções. Quanto mais voce oferecer, mais recebe.


A humanidade parece tão medíocre porque nós nos esquecemos da lei de dar e receber. Em vez de se dar, o amor se transforma em um mendigo, sempre pedindo. A esposa pede: “Me ame, sou sua esposa”. O marido diz:  “Me ame”. Todo mundo pede: “Me ame”. Mas quem é que vai dar? E como no mundo alguém dará se todos somos mendigos.   

Quando foi a última vez que você parou na rua e olhou ao seu redor, um olhar observador, um olhar reparando em todas as pessoas que estão naquele mesmo ambiente que você? Qual foi a última vez que você dedicou 10 minutos para uma pessoa que você não conhece, e eu não estou falando para você ajudar em sentido material, estou falando qual foi à última vez que parou o que estava fazendo e olhou para uma pessoa que está triste ou com um semblante estranho e perguntou se estava tudo bem? Você até agora não conseguiu mensurar o tempo que isso faz, sabe por quê?


- Porque por mais que propague o amor ao próximo, você não pratica na vida. Nós até podemos ajudar financeiramente ou emocionalmente alguém, mas sempre ajudamos as pessoas que conhecemos. Sempre pessoas que são próximas de nós. Como diz Confúcio: “Saber o que é correto e não o fazer é falta de coragem”.

 

Amigos, amar a quem nos ama é muito fácil. Fazer o bem para as pessoas que gostam de nós é muito fácil. Porque você não tenta essas mesmas atitudes com pessoas que você nunca viu na vida, pessoas que você não conhece. Melhor, já tentou fazer isso com pessoas que você talvez não tenha tanta simpatia assim?  

 

A rotina, o trabalho, está consumindo o seu bem mais precioso, o seu tempo, com você mesmo e com sua família.  Somos influenciados pelo modo que a sociedade inverte os valores hoje. Quando um soldado vai para a guerra ou um general volta de uma batalha, os dois dependendo do que conquistaram ou quantas pessoas mataram recebem condecorações ou estrelas no seu uniforme. Quer dizer, mostram a todos que foram recompensados por matar outros seres humanos ou desfazer lares e famílias, mesmo que inocentes. Alguém já viu alguma sociedade recompensar seus amantes? Não, amantes devem ser condenados. Nenhuma sociedade permite qualquer tipo de respeito aos amantes, pois o amor é uma maldição para a sociedade. Portanto, a primeira coisa que todos os interesses institucionais têm a fazer é desviar o homem do amor, o que eles têm conseguido até agora.

 

Quando você estiver andando na rua, apressado, tente parar um pouco, respirar e olhar ao seu redor e procure ver as pessoas. Mas não olhe com um olhar típico nosso, um achar de egoísmo, de prepotência de que nossas responsabilidades sempre são muito mais importantes do que a dos outros. Mas use o seu olhar humano. O seu olhar compassivo, o seu olhar de empatia. Você perceberá que existe um varredor de rua, o nome aqui em BH chama de GARI, mas existem vários tipos de nomes em todas as cidades. Repare no rosto dele. Ele está feliz, triste, cantando? A mulher idosa que está na praça, olhando para o horizonte. Ela está distraída mesmo ou está triste? E o rapaz que está vendendo chuchu que está cantando e feliz. Sabe qual é a única maneira de você saber essas coisas?

– Conversando.


Não estou dizendo para você sair conversando com pessoas estranhas e fazendo perguntas intimas. Provavelmente irão chamar a polícia para você. Estou querendo que vocês se importem com as pessoas que vocês não conhecem.


Quando você está com a saúde em perfeito estado, quando sua vida financeira está excelente, quando você não possui nenhum problema maior para resolver que envolva seu tempo, é muito fácil ajudar as outras pessoas.  Quando tudo está bem e controlado é fácil estender a mão e ajudar as pessoas que necessitam de sua atenção. Se está esperando as coisas na sua vida melhorar para ajudar o próximo, esqueça.


Você sempre terá um problema para resolver.

Somos egoístas. Se não estamos bem, se não estamos dispostos, se não estamos bem financeiramente ou psicologicamente, não ajudamos ninguém. Priorizamos o nosso bem primeiro e depois ajudamos o próximo. E é errado esse pensamento?

- Não.

 

Toda filosofia parteda inscrição que os Sete Sábios deixaram no frontispício do orácPorque para amar o próximo você precisa amar a si mesmo. E isso é profundamente essencial para amarmos ao próximo. Sem se amar voce nunca amará ninguém. Lembre-se que amar ao próximo não é a ausência de si. Amar ao próximo é compartilhar o grande amor que transborda em voce.


 ulo de Delfos: “Conhece a ti mesmo”. Isso nos leva a assumir com humildade o fato de que não sabemos nada. Da mesma forma que o copo vazio espera ser preenchido, somente a partir da humildade se pode começar a construir a verdadeira sabedoria. A bíblia nos adverte que se voce não se conhece, seguirá o caminho do rebanho. Por isso, conhecer a si mesmo não é necessariamente um ato de egocentrismo, mas uma análise das  possibilidades que temos de traçar uma rota sem nos  perder nos desvios. O livro “Acredite no amor” de Osho tem uma observação interessante sobre isso: “Por que é tão difícil para o indivíduo amar a si mesmo? Toda criança nasce com um amor enorme por si mesma. É a sociedade que destrói esse amor... Quem vai amar o presidente? Quem vai amar os pais? O amor da criança por si mesma tem que ser desviado.

 

A criança deve ser condicionada, de modo que seu amor esteja sempre direcionado para um objeto externo a ela. Isso torna o homem muito pobre, pois quando ama alguém que não a si mesmo, seja seus líderes espirituais, o papa, sua esposa, seu pai, seu marido, seus filhos, quem quer que seja o objeto de seu amor, torna-se dependente do objeto. Torna-se um objeto secundário a seus próprios olhos, torna-se um mendigo.

 

O pai quer que ele o ame, sua mãe quer que ele a ame. Todos ao seu redor querem se tornar um objeto de seu amor. Ninguém se importa com o fato de que um homem que não pode amar a si mesmo não pode amar ninguém. É por isso que se cria uma sociedade muito louca nos locais em que todos estão tentando amar alguém, e eles não têm nada para dar. Ambos são mendigos, ambos são vazios. Uma criança educada de forma correta terá permissão para crescer com o amor voltado para si mesma, e se tornará tão repleta de amor que compartilhá-lo será uma necessidade. Ela fica tão sobrecarregada de amor que há de querer alguém com quem dividi-lo. Assim o amor nunca torna a pessoa dependente de ninguém. Ela é a doadora, e o doador nunca é um mendigo. E o outro também é um doador. Ninguém é dependente de ninguém, todo indivíduo é independente e bem-centrado e bem-fundamentado em si mesmo. Tem raízes que vão fundo no interior de seu ser, de onde o suco chamado amor vem para a superfície e floresce, abrindo milhares de rosas”.

 

Entendam isso. Para amar ao próximo não damos aquilo que não temos. Quando nós nos amamos,  esse amor é tão grande que transborda e voce quer e precisa compartilhar isso com alguém. Por isso se amar primeiro é o primeiro passo. E isso não é narcisismo. Longe disso. O amor narcisista é egoísta. Só tem como objetivo o próprio prazer. Ele é solitário, vazio e pobre. Narciso apaixonou-se pelo seu reflexo – não por si próprio.  Isto não é o verdadeiro amor-próprio. Ele apaixonou-se pelo reflexo; o reflexo é o outro. Ele transformou-se em dois, ficou dividido. Narciso dividiu-se. Ele estava num estado de esquizofrenia. Ele tornou-se dois – o amante e o amado. Tornou-se o seu próprio objeto de amor.


O egoísmo caracteriza-se como ausência de autoestima. Aparentemente, o indivíduo egoísta ama boa dose de amor-próprio, mas, na verdade, é exatamente o contrário: trata-se de pessoas carentes que buscam retirar dos outros aquilo que lhes falta.

 

Por ser uma personalidade explorada que “quer” tudo para si, o egoísta não desenvolve o amor fraterno.  O egoísmo é um traço sombrio do instinto de sobrevivência. É particularmente forte na infância e deve atenuar-se aos poucos, com o desenvolvimento da personalidade. Na psicologia distingue duas formas de narcisismo: o primário e o secundário. No narcisismo primário, a criança nos primeiros meses de  vida não se distingue do mundo exterior. Forma uma unidade tão completa com  a mãe, que não percebe que as necessidades, as carências, estão dentro dela, enquanto a fonte de satisfação está fora, na mãe. Unida com a mãe, sente-se um ser completo e feliz. Aos poucos, começa a perceber que ela é uma pessoa e a mãe outra. Toma consciência do mundo exterior para a satisfação de suas necessidades. Rompido o vínculo narcisista primário, a criança terá um desenvolvimento satisfatório. 

 

Quando esse rompimento é doloroso e insatisfatório, tem-se o narcisismo secundário. A criança, e mais tarde o adulto, irá fantasiar um pai ou uma mãe onipotente dos outros. Superestimará seu próprio eu.  Ficará envaidecida com sua pseudoperfeição. Não podemos então,  interessarmos  de verdade pelos outros, simplesmente os usará quando servirem para o enaltecimento  de seu “poder” e de suas “qualidades”.

 

Mas uma coisa eu posso dizer por experiência própria que as duas formas de lidarmos com o nosso problema é ajudar os outros. Quando você está com problemas graves para resolver, quando um problema que não tem solução aparece, é muito difícil se desvencilhar de tudo e ajudar outra pessoa.

Mas, faça o caminho inverso.


Seja contrário aos seus próprios desejos e tendências egoístas. Procure ajudar a alguém que está precisando. Procure ajudar de alguma maneira, seja física, mental, espiritual, financeira ou apenas converse com ele e ouça o que ele tem a dizer. Mas de alguma forma ajude. Quando ajudamos o próximo e temos a gratidão apenas no olhar da pessoa, esse sentimento vai nos fazer tão bem e vai nos deixar tão motivados que vamos ter força para enfrentar os nossos próprios problemas.


Se você está passando por algum problema grave, faça isso.  Ajude outras pessoas. Você verá como isso irá te ajudar a não pensar em si mesmo e com certeza você irá encontrar uma saída ou uma solução para os seus problemas. Por mais incrível e paradoxal que seja, a melhor forma de você se ajudar é ajudando outros. Mas não peço que você faça isso de maneira automática.


Esse sentimento de satisfação e realização você terá que entender. Esse sentimento não é apenas sensorial ele é racional e você precisa entendê-lo para senti-lo. Um não funciona sem o outro. Mas como assim, eu preciso entender esse sentimento? Eu não preciso apenas sentir? Eu preciso entender?


Se você está fazendo essa pergunta, é porque você ainda precisa aprender. E felizmente a única pessoa que poderá te explicar e associar estas duas faces do amor ao próximo é você mesmo. O amor nada dá senão a si próprio e nada recebe senão de si próprio.


Rui Miguel Trindade dos Santos


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